|
O Papel do
Professor
O professor é o grande agente do processo
educacional, diz o Dr. Gabriel Chalita, autor do livro "Educação - a
solução está no afeto". E ele prossegue: "A alma de qualquer
instituição de ensino é o professor. Por mais que se invista na equipagem das
escolas, em laboratórios, bibliotecas, anfiteatros, quadras esportivas,
piscinas, campos de futebol - sem negar a importância de todo esse instrumental
-, tudo isso não se configura mais do que aspectos materiais se comparados ao
papel e à importância do professor."
Mas, professor Gabriel, perguntamos, há quem afirme
que o computador irá substituir o professor, e que nesta era em que a
informação chega de muitas maneiras, o professor perdeu sua importância. Ele
responde, com serenidade: "O computador nunca substituirá o professor. Por
mais evoluída que seja a máquina, por mais que a robótica profetize evoluções
fantásticas, há um dado que não pode ser desconsiderado: a máquina reflete e
não é capaz de dar afeto, de passar emoção, de vibrar com a conquista de cada
aluno. Isso é um privilégio humano."
Deste ponto em diante, deixaremos que a entrevista
siga como monólogo, porque quem tem ouvidos de ouvir, que ouça.
"Pode-se ter todos os poemas, romances ou
dados no computador, como há nos livros, nas bibliotecas; pode até haver a
possibilidade de buscar informações pela Internet, cruzar dados num toque de
teclas, mas falta a emoção humana, o olhar atento do professor, sua
gesticulação, a fala, a interrupção do aluno, a construção coletiva do conhecimento,
a interação com a dificuldade ou facilidade da aprendizagem.
Os temores de que a máquina possa vir a substituir
o professor só atingem aqueles que não têm verdadeiramente a vocação do
magistério, os que são meros informadores desprovidos de emoção. Professor é
muito mais do que isso. Professor tem luz própria e caminha com pés próprios.
Não é possível que ele pregue a autonomia sem ser autônomo; que fale de
liberdade sem experimentar a conquista da independência que é o saber; que ele
queira que seu aluno seja feliz sem demonstrar afeto. E para que possa
transmitir afeto é preciso que sinta afeto, que viva o afeto. Ninguém dá o que
não tem. O copo transborda quando está cheio; o mestre tem de transbordar
afeto, cumplicidade, participação no sucesso, na conquista de seu educando; o
mestre tem de ser o referencial, o líder, o interventor seguro, capaz de
auxiliar o aluno em seus sonhos, seus projetos.
A formação é um fator fundamental para o professor.
Não apenas a graduação universitária ou a pós-graduação, mas a formação
continuada, ampla, as atualizações e os aperfeiçoamentos. Não basta que um
professor de matemática conheça profundamente a matéria, ele precisa entender
de psicologia, pedagogia, linguagem, sexualidade, infância, adolescência, sonho,
afeto, vida. Não basta que o professor de geografia conheça bem sua área e
consiga dialogar com áreas afins como história; ele precisa entender de ética,
política, amor, projetos, família. Não se pode compartimentar o conhecimento e
contentar-se com bons especialistas em cada uma das áreas.
Para que um professor desempenhe com maestria a
aula na matéria de sua especialidade, ele precisa conhecer as demais matérias,
os temas transversais que devem perpassar todas elas e, acima de tudo, conhecer
o aluno. Tudo o que diz respeito ao aluno deve ser de interesse do professor.
Ninguém ama o que não conhece, e o aluno precisa ser amado! E o professor é
capaz de fazer isso. Para quem teve uma formação rígida, é difícil expressar os
sentimentos; há pessoas que não conseguem elogiar, que não conseguem abraçar,
que não conseguem sorrir. O professor tem de quebrar essas barreiras e
trabalhar suas limitações e as dos alunos.
Não há como separar o ser humano profissional do
ser humano pessoal. Certamente o professor, como qualquer pessoa, terá seus
problemas pessoais, chegará à escola mais sisudo que o habitual e terá mais
dificuldade em desempenhar seu trabalho em sala de aula. Os alunos notarão a
diferença e a eventual impaciência do professor nesse dia, mas eles não sabem
os motivos da sisudez do mestre e podem interpretar erroneamente. Exatamente
por isso é preciso cuidar para que contrariedades pessoais não venham à tona,
causando mágoas e ressentimentos.
Ao enfrentar problemas de ordem pessoal o professor
deve procurar o melhor meio para sair do estado de espírito sombrio e poder
desempenhar seu trabalho com serenidade. A leitura dos clássicos, o contato com
a arte, com a natureza, uma boa terapia, uma reflexão mais profunda sobre a
contrariedade por que se está passando pode ajudar muito. Ninguém é mau em
essência, como já dissemos, mas um professor descontrolado deve rever seu
comportamento sob pena de ser mal interpretado por seus alunos.
Sabe-se que a dificuldade financeira é um obstáculo
para a maior parte dos professores deste país, mas não pode servir de desculpa:
há numerosos programas culturais gratuitos, há bibliotecas públicas, a natureza
está aí e não cobra nada para ser contemplada. Não se trata de ignorar a
lamentável situação em que se encontram os professores no que diz respeito aos
patamares salariais. Essa classe vem sendo tratada com desrespeito pela grande
maioria dos administradores públicos do país. Para obras de cimento e cal
sempre há dinheiro, para um salário digno de quem forma o cidadão brasileiro
não há verbas. Entretanto, isso não pode ser desculpa para a acomodação, para a
negligência ou para a impaciência. O professor tem o direito constitucional de
fazer greve e ninguém pode deixar de respeitá-lo por isso, mas não tem o
direito de ser negligente, incompetente, displicente, porque o aluno não tem
culpa. Se o problema é com os administradores, eles é que devem ser
enfrentados. É melhor entrar em greve, com todos os problemas decorrentes
disso, do que dar uma aula sem alma apenas porque não se ganha o suficiente.
Desde os primórdios da cultura grega, o professor
se encontrar em uma posição de importância vital para o amadurecimento da
sociedade e a difusão da cultura. As escolas de Sócrates, Platão e Aristóteles
demonstram a habilidade que tinham os pensadores para discutir os elementos
mais fundamentais da natureza humana. Não perdiam tempo com conteúdos
engessados. Discutiam o que era essencial. Sabiam o que era essencial porque
viviam da reflexão, e a aula era o resultado de um profundo processo de
preparação. Assim foi a escola de Abelardo, com os alunos quase extasiados pelo
carisma do professor e pela forma envolvente e sedutora como eram tratados os
temas. Sócrates andava com seus alunos e ironizava a sociedade da época com o
objetivo de fazê-los pensar, de provocar-lhes a reflexão, o senso crítico. Não
se conformava com a passividade de quem acha que nada sabe e nunca conseguirá
sabem nem com a arrogância de quem acredita que tudo sabe e, portanto, nada
mais há que mereça ser estudado ou refletido.
Jesus Cristo, o maior de todos os mestres da
humanidade, contava histórias, parábolas e reunia multidões ao seu redor,
fazendo uso da pedagogia do amor. Quem era esse pregador que falava de forma
tão convincente, ensinava sobre um novo reino e olhava nos olhos com a doçura e
a autoridade de um verdadeiro mestre? A multidão vinha de longe para ouvi-lo
falar, para aprender sobre esse novo reino e sobre o que seria preciso fazer
para alcançar a felicidade. O grande mestre não precisava registrar as matérias,
não se desesperava com o conteúdo a ser ministrado nem com a forma de
avaliação, se havia muitos discípulos ou não. Jesus sabia o que queria:
construir a civilização do amor. E assim navegava em águas tranquilas, na maré
correta, com a autoridade de quem tem conhecimento, de quem tem amor e de quem
acredita na própria missão.
Sócrates e Cristo foram educadores, formaram
pessoas melhores. Não há como negar que os numerosos profetas ou os simples
contadores de história conseguiram tocar e educar muito mais do que qualquer
professor que saiba de cor todo o plano curricular e tudo o que o aluno deve
decorar para ser promovido. Ninguém foi obrigado a seguir a Cristo, não havia
lista de presença nem chamada, e mesmo assim a multidão se encantava com seus ensinamentos
- ele tinha o que dizer e acreditava no que dizia, por isso foi tão marcante.
O professor precisa acreditar no que diz, ter
convicção em seus ensinamentos para que os alunos também acreditem e se sintam
envolvidos. Precisa de preparo para ir no rumo certo e alcançar os objetivos
que almeja.
O professor que não prepara as aulas desrespeita os
alunos e o próprio ofício. É como um médico que entra no centro cirúrgico sem
saber o que vai fazer e sem instrumentação adequada. Tudo na vida exige uma preparação.
Uma aula preparada, organizada, com o conteúdo refletido muito provavelmente
será bem sucedida. Aula previamente preparada não significa aula engessada: não
lhe dará o direito de falar compulsivamente, sem permitir intervenção do aluno,
não dialogar com a vida, não dar ensejo a dúvidas; o professor não deixará de
discutir outros temas que surgirem apenas porque tem que cumprir o roteiro de
aula que preparou. Pode até ocorrer que ele dê uma aula diferente daquela que
planejou, mas isso é enriquecedor.
Preparação é planejamento. Muitos professores fazem
o planejamento do início do ano de qualquer maneira, apenas para cumprir
exigências formais. É lamentável. Se o professor investir tempo refletindo cada
item de seu planejamento, sem dúvida terá muito menos trabalho durante o ano
para o cumprimento de seus objetivos porque planejou, sabe onde quer chegar,
sabe o tipo de habilidade que precisa ser trabalhada e como avaliar o processo
do aluno.
A partir da minha experiência por meio de contatos
no Brasil e fora daqui, passo agora a compor um quadro com os tipos mais comuns
de professor que se pode encontrar. Como todo o respeito que merece a categoria
como um todo, nota-se frequentemente a recorrência dos mesmos gêneros de
atuação em sala.
PROFESSOR ARROGANTE
Ele se acha o detentor do conhecimento. Fala de si
o tempo todo e coloca os alunos em um patamar de inferioridade. Ao menor
questionamento, pergunta quantas faculdades já fez o aluno, se já escreveu
algum livro, se já defendeu teses, para se mostrar superior. Gosta de parecer
um mito; teima em propalar, às vezes inventando, os elogios que recebe em todos
os congressos dos quais participa; conta histórias a respeito de si mesmo para
mostrar quanto é competente e querido. Não gosta de ser interrompido, não
presta atenção quando algum aluno quer lhe contar um feito seu. Só ele
interessa; só ele se basta.
O que se pode dizer é que o professor arrogante tem
uma rejeição a si mesmo e não acredita em quase nada do que diz. Como sofre,
possivelmente, de complexo de inferioridade, precisa de auto-afirmar usando a
plateia cativa de que dispõe: os alunos.
PROFESSOR INSEGURO
Tem medo dos alunos; teme ser rejeitado, não
conseguir dar aula, não ser ouvido porque acha que sua voz não é tão boa. Não
sabe como passar a matéria apesar de ter preparado tudo; acha que talvez fosse
melhor usar outro método; teme que os alunos não gostem de sua forma de
avaliação. Começa a aula várias vezes e se desculpa, e pede ainda que esqueçam
tudo, e recomeça. Tem receio de que os pais dos alunos não gostem de sua forma
de relacionamento com eles, receia também a direção da escola, os outros
professores e se vê paralisado, com seu potencial de educador inutilizado.
O medo de fato paralisa e dificulta o crescimento
profissional. Apesar de ser um sentimento normal e frequente, é preciso que
seja trabalhado. Um ator quando entra em cena geralmente está tenso, nervoso,
mas seu talento consiste em não transmitir essa sensação para a plateia. Ele
precisa confiar no que está fazendo e superar a insegurança. Se o professor não
acreditar no que diz, será ainda mais difícil ao aluno fazê-lo.
PROFESSOR LAMURIANTE
O professor lamuriante reclama de tudo o tempo
todo. Reclama da situação atual do país, da escola, da falta de participação
dos alunos, da falta de material para dar um bom curso, do currículo, das
poucas aulas que tem para ministrar sua matéria. Passa sempre a impressão de
que está arrasado e não encontrar prazer no que faz. Às vezes se aproveita da
condição de professor e usa a turma para fazer terapia. Fala do filho, da
filha, da empregada, da cozinheira, da ingratidão de amigos etc. Mais uma vez,
se trata do abuso da plateia cativa.
A dignidade de um profissional é requisito básico
para uma relação de trabalho. No magistério, essa norma é um mandamento, na
medida em que o professor trata com pessoas em formação, que não são seus
iguais em nenhuma hipótese.
PROFESSOR DITADOR
É aquele que não respeita a autonomia do aluno.
Trabalha como se fosse um comandante em batalha; exige disciplina a todo o
custo. Grita e ameaça. Não quer um pio, zela pela sala como se fosse um
presídio; ninguém pode entrar atrasado nem sair mais cedo; ninguém pode ir ao
banheiro, é preciso disciplinar também as necessidades fisiológicas. Dia de
prova parece também dia de glória: investiga aluno por aluno, proíbe empréstimo
de material, ameaça quem olhar para o lado. Tem acessos de inspetoria
higiênica, investiga as unhas das mãos e os cabelos. Grita exigindo silêncio
quando o silêncio já reinava desolado na sala.
O professor ditador está perdido na necessidade de
poder. Poder e respeito não se impõem, se conquistam. Há determinadas práticas
que se perpetuam sem razão; são contraproducentes e muito danosas para o aluno
mas, principalmente, fazem muito mal ao professor que as revive.
PROFESSOR BONZINHO
Diferentemente do ditador, o bonzinho tenta forçar
amizade com o aluno. Gosta de dizer quanto gosta dos alunos. Traz presentes, dá
notas altas indiscriminadamente. Seus alunos decidem se querem a prova com ou
sem consulta, em grupo ou individualmente, depois propala sua generosidade. Às
vezes ainda tem a audácia de se comparar aos colegas, afirmando que os outros
professores não fariam isso. Durante a prova responde as questões para os
alunos, para que não fiquem tristes, para que não tirem nota baixa. Concede
outra chance e dá outra prova para quem foi mal, idêntica à anterior só para
tirar uma nota bem boa. Pede desculpa quando a matéria é muito difícil e só
falta pedir desculpa por ter nascido.
A amizade também é um processo de conquista e esse
professor acaba sendo motivo de chacota entre os alunos. Tudo o que vem dele
parece forçado porque procede de uma carência de atenção e de uma necessidade
infantil de aceitação.
PROFESSOR DESORGANIZADO
Esse aparece em aula sem a menor ideia do que vai
tratar. Não lê, não prepara as aulas, não sabe a matéria e se transforma em um
tremendo enrolador. Sua desorganização é aparente: como não faz planejamento,
não sabe o tipo de tarefa que vai propor, então inventa na hora e na aula
seguinte não se lembra de cobrar os alunos nem comenta sobre o que havia
pedido. Como não sabe o que vai ministrar, põe-se a conversar com os alunos e a
discutir banalidades. De repente, para dinamizar a aula, resolve promover um
debate: o grupo A defende a pena de morte, o grupo B será contrário à pena de
morte, sem nenhum preparo anterior, nenhum subsídio contra ou a favor.
O profissional precisa ter método. A organização é
prova do compromisso que ele tem para com os alunos. A improvisação, muitas
vezes necessária e enriquecedora, não prescinde do planejamento, como já
dissemos.
PROFESSOR OBA-OBA
Tudo é festa! Esse tipo adora as dinâmicas em sala.
Projeta muitos filmes, leva algumas reportagens; faz com que os alunos saiam da
sala para observar algum fenômeno na rua ou no céu, fala em quebra de
paradigmas, tudo conforme pregam os chamados consultores de empresas, mas sem
amarração, sem objetividade. A dinâmica pode ser ótima, mas é preciso que o
aluno entenda por que ele está fazendo parte daquela atividade. O filme pode
ser fantástico, mas se cada dia vier um filme diferente e não houver discussão,
aprofundamento, perde-se o sentido. Há aquele professor que gosta de levar
música para a sala de aula, comentar uma letra da MPB ou explicar As quatro
estações, de Vivaldi. É interessante, desde que não se faça isso sempre, porque
os alunos sentem falta do nexo com a matéria que devem aprender. E o que
deveria ser um elemento agradavelmente surpreendente se transforma em motivo de
chacota.
Esse professor é bem intencionado, não há dúvida.
Mas falta-lhe estabelecer com os alunos a relação desses jogos de
sensibilização com o conteúdo da matéria que cabe a ele ministrar.
PROFESSOR LIVRESCO
Ao contrário do oba-oba, o professor livresco tem
uma vasta cultura. Possui um profundo conhecimento da matéria, mas não consegue
relacioná-la com a vida. Ele entende de livros, não do cotidiano. Além disso,
não utiliza dinâmica alguma, não muda a tonalidade da voz, permanece o tempo
todo em apenas um dos cantos da sala e suas ações são absolutamente
previsíveis. Todos sabem de antemão como vai começar e como vai terminar a
aula; quanto tempo será dedicado para a exposição da matéria, quanto tempo para
eventuais questionamentos. Não importa se o aluno está acompanhando ou não seu
raciocínio, ele quer dizer tudo o que preparou para ser dito.
Apesar de ter embasamento, dominar o conteúdo, é
necessário aprimorar a forma, trabalhar com a habilidade da didática. Ensaiar
mudança na metodologia. Às vezes, o professor livresco piora quando resolve
inovar: leva um retroprojetor para a sala, e as lâminas contêm, transcrito,
tudo o que vai ler em voz alta. E aquela aula se torna interminável e
cansativa.
PROFESSOR "TÔ FORA"
Ele não se compromete com a comunidade acadêmica.
Não quer saber de reunião, de preparação de projetos comuns, de vida
comunitária. Nem festa junina, nem gincana cultural ou esportiva, nem festa de
final de ano. Ele dá sua aula e vai embora. Muitas vezes é até bom professor,
mas não evolui sua relação social nem o conteúdo interdisciplinar porque não
está presente. Alguns são arrogantes a ponto de achar que não têm o que
aprender, que estão acima dos outros professores e portanto não vão ficar
discutindo bobagens. Outros estão preocupados com as lutas do dia-a-dia pela
sobrevivência e como não estão ganhando para trabalhar em festas juninas, por
exemplo, se negam a participar.
O processo educativo é comunitário. O bom ambiente
escolar depende da participação de todos. A mudança dos paradigmas ocorre
quando cada um dá sua parcela de contribuição e é capaz de permitir que o outro
também opine, também participe. Ninguém é uma ilha de excelência que prescinda
de troca de experiências.
PROFESSOR DEZ QUESTÕES
Para sua própria segurança, o professor "dez
questões" reduz tudo o que ministrou num só bimestre a um determinado
número de questões: dez, nove, 15, não importa. Ele geralmente passa toda a
matéria no quadro-negro ou em forma de ditado. Quando há livro, pede que os
alunos leiam o que está ali e façam resumo ou respondam às questões. Corrige, se
necessário, questão por questão. Geralmente as questões não são relacionais,
não são críticas. No campo das ciências exatas, o aluno deve decorar as
fórmulas para a solução dos problemas. E no fim do bimestre o professor
apresenta algumas questões que os alunos devem decorar para a prova. Em sua
"generosidade" avisa que dessas dez questões vai usar apenas cinco na
prova. Ou alunos decoram ou, se forem mais astutos, colam; acabada a prova,
joga-se fora a cola ou joga-se fora da memória aquilo que foi decorado. No
outro bimestre, como o ponto é outro, haverá outras dez questões para ser
decoradas e assim sucessivamente: a aprendizagem não significou nada a não ser
algumas técnicas de memorização e de burla.
É inadmissível que com tantos recursos à disposição
um professor se sirva de técnicas antiquadas e sem sentido. Exigir que um aluno
decore coisas cujo sentido ele nem percebe, que nem mesmo tornarão a ser
mencionadas no decorrer dos estudos, constitui um absurdo que será antes de
mais nada constatado pelo próprio aluno.
PROFESSOR TIOZINHO
"Tiozinho", no sentido depreciativo, é
aquele professor que gasta aulas e mais aulas dando conselhos aos alunos.
Trata-os como se fossem seus sobrinhos, quer saber tudo sobre a vida deles, o
que fazem depois da escola, aonde vão, os lugares que frequentam e emite
opiniões em assuntos de cunho privado que absolutamente não competem a ele. O
professor tiozinho de sente um pouco psicólogo também, e maus psicólogo, é
claro. Começa desde logo a diagnosticar os problemas dos alunos e se acha
qualificado para isso.
Geralmente conselho não funciona com aluno. O
espaço que o professor dá é aquele que permite ao aluno sentir-se à vontade
para conversar, nunca para que se sinta obrigado a expor sua vida privada em
sala porque o professor quer ser um "tio" bom. E isso não muda
comportamento; a amizade e a confiança não podem ser forçadas, nascem de um
movimento natural de convivência saudável.
PROFESSOR EDUCADOR
O professor que se busca construir é aquele que
consiga de verdade ser um educador, que conheça o universo do educando, que
tenha bom senso, que permita e proporcione o desenvolvimento da autonomia de
seus alunos. Que tenha entusiasmo, paixão; que vibre com as conquistas de cada
um de seus alunos, não descrimine ninguém, não se mostre mais próximo de
alguns, deixando os outros à deriva. Que seja politicamente participativo, que
suas opiniões possam ter sentido para os alunos, sabendo sempre que ele é um
líder que tem nas mãos a responsabilidade de conduzir um processo de crescimento
humano, de formação de cidadãos, de fomento de novos líderes.
Ninguém se torna um professor perfeito, aliás
aquele que se acha perfeito, e portanto nada mais tem a aprender, acaba de
transformando num grande risco para a comunidade educativa. No conhecimento não
existe o ponto estático - ou se está em crescimento, ou em queda. Aquele que se
considera perfeito está em queda livre porque é incapaz de rever seus métodos,
de ouvir outras ideias, de tentar ser melhor.
A grande responsabilidade para a construção de uma
educação cidadã está nas mãos do professor. Por mais que o diretor ou o
coordenador pedagógico tenham boa intenção, nenhum projeto será eficiente se
não for aceito, abraçado pelos professores porque é com eles que os alunos têm
maior contato.
O artigo 13 da LDB sobre a função dos professores:
Artigo 13 - Os docentes incumbir-se-ão de:
I. participar da elaboração da
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
II. elaborar e cumprir plano de
trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
III. zelar pela aprendizagem dos
alunos;
IV. estabelecer estratégias de
recuperação dos alunos de menor rendimento;
V. ministrar os dias letivos e
horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos
dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;
VI. colaborar com as atividades de
articulação da escola com as famílias e a comunidade.
Nota-se que o papel do professor, segundo a LDB,
está muito além da simples transmissão de informações. Dentro do conceito de
uma gestão democrática, ele participa da elaboração da proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino, isto é, decide solidariamente com a comunidade
educativa o perfil de aluno que se quer formar, os objetivos a seguir, as metas
a alcançar. E isso não apenas no tocante a sua matéria mas toda a proposta
pedagógica.
A LDB discorre sobre a elaboração e o cumprimento
do plano de trabalho, trazendo à tona a organização do professor e a
objetividade no exercício de sua função. No tocante à aprendizagem dos alunos,
fala em zelo no sentido de acompanhamento dessa aprendizagem, que se dá de
forma heterogênea, individual. Zelar é mais do que avaliar, é preocupar-se,
comprometer-se, buscar as causas que dificultam o processo de aprendizagem e
insistir em outros mecanismos que possam recuperar os alunos que apresentem
alguma espécie de bloqueio para o aprendizado.
O professor só conseguirá fazer com que o aluno
aprenda se ele próprio continuar a aprender. A aprendizagem do aluno é,
indiscutivelmente, diretamente proporcional à capacidade de aprendizado dos
professores. Essa mudança de paradigma faz com que o professor não seja o
repassador de conhecimento, mas orientador, aquele que zela pelo
desenvolvimento das habilidades de seus alunos. Não se admite mais um professor
mal formado ou que pare de estudar.
O artigo termina falando da colaboração do
professor nas atividades de articulação da escola, com as famílias e a
comunidade. Aliás, para que o processo de aprendizagem seja eficiente, os
atores sociais precisam participar e essa articulação é imprescindível. A
parceria escola/família, escola/comunidade é vital para o sucesso do educando.
Sem ela a já difícil compreensão do mundo por parte do aluno se torna cada vez
mais complexa. Juntas, sem denegar responsabilidades, a família, a escola, a
comunidade podem significar um avanço efetivo nesse novo conceito educacional:
a formação do cidadão."
"Para ser grande, sê inteiro: nada teu
exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no
mínimos que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha, porque
alta vive.”·
(Ricardo Reis)··(Esse trecho faz parte do
livro Educação - A solução está no afeto, de Gabriel Chalita, Editora Gente)”.
|
0 aluno
Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos, ó leitores:
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade,
Que elas buscam piedade, e não louvores.
Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas e amores;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração de seus favores.
E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns, cuja aparência
Indique festival contentamento,
Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento
Cantados pela voz da Dependência.
Bocage
O
aluno é aquele que, em linhas gerais, está sendo avaliado pelo desenvolvimento
formal de suas habilidades. Diz-se formal porque é em uma instituição de ensino
que se armazenam todos os dados necessários para o acompanhamento da vida
estudantil de cada aluno.
Mesmo
inserido em um ambiente escolar, o aluno não deixa de lado suas
características, suas peculiaridades individuais, que são marcas da riqueza
humana que deve ser explorada em sala de aula. Cada um é singular, daí que
qualquer tentativa de homogeneização do ensino se traduza em fracasso. Os termos
comparativos não levam a lugar algum. Aquele malfadado costume de dar prêmio
aos melhores alunos e apontar os piores alunos para que sirvam de modelo,
respectivamente a ser seguido e a ser evitado, não tem absolutamente nada de
educativo.
O
conceito de melhor ou de pior não combina com a visão holística que se propaga
hoje para a educação e a vida. As múltiplas habilidades demonstram que o melhor
em matemática nem sempre o será em português ou em música ou em dança ou em
oratória. O escultor não necessariamente é um profundo conhecedor de química
inorgânica e o escritor pode não ser perito em análise sintática. Um dos
maiores escritores de todos os tempos, o francês Gustave Flaubert, permaneceu
analfabeto até quase os 10 anos de idade, tido por deficiente mental. Sartre
escreveu um ensaio a esse respeito, chamado 'O idiota da família", em que
discorre sobre os métodos de ensino aplicados ao menino Flaubert que o tornaram
refratário ao aprendizado das primeiras letras.
O
aluno está sujeito a todo tipo de comparação e contra ele paira a pecha de
indisciplinado, rebelde, alienado, fruto da natural inquietude juvenil. Em
verdade, o aluno, mesmo que seja um sujeito ativo do processo de aprendizagem,
precisa de orientação, precisa de líderes que possam conduzi-lo a caminhos
razoáveis de desenvolvimento pessoal. Para isso a autonomia tem de ser
respeitada, a experiência que cada aluno traz de seu universo pode ser um
laboratório espetacular para o professor. As histórias de vida servem como
sinalizadores do potencial que o aluno possui.
Trata-se
da chamada maiêutica socrática. Sócrates, filósofo grego, reunia seus
discípulos e incitava-os ao "parto das ideias". Dizia que um mestre
deve fazer como fazem as parteiras: não fazem o bebê, elas apenas auxiliam o
nascimento das criaturas que já estão prontas no ventre materno. Mestre não é
aquele que faz as ideias de seus discípulos, é o que os auxilia na gênese e na
gestação dessas ideias.
Por
mais incorreto que seja o ponto de vista de um aluno, ele merece respeito, até para
que possa aprender a apurar suas opiniões. O professor que imediatamente e de
forma abrupta afirma que o aluno errou, caso este apresente um dado incorreto,
pouco estará contribuindo para o aperfeiçoamento do raciocínio desse aluno, ao
passo que se investir tempo para entender o que o levou a incorrer em erro,
poderá ajudá-lo a construir outro raciocínio e a constatar de forma tranquila
onde estava o engano.
Respeito
ao aluno é o elemento fundamental a ser obedecido se se quer formar uma geração
com capacidade simultânea de sonhar e de executar, uma geração que imagine
utopias e lute para a concretização delas; que se imponha metas e não tenha
medo de tentar atingi-las, em qualquer idade.
O
que costuma dificultar essa visão integral e afetiva são os muitos paradigmas,
as amarras, os costumes tradicionais de não se valorizar a vivência do aluno,
sua história, sua vivência pessoal. Há alguns mitos que precisam ser quebrados
com relação aos alunos e à sala de aula;
1) "Esta sala
de aula é um problema"
Toda
sala de aula é ao mesmo tempo um problema e uma solução.
Não
é possível utilizar em uma classe os mesmos métodos ao longo dos anos. Pode ser
que com determinada turma a forma ideal de tratamento dos mais diferentes temas
tenha encontrado eco, ao passo que com outra turma, da mesma idade, na mesma
escola, não se consiga sequer prender sua atenção. A questão não é da classe,
da turma, é do professor; é dele que se espera maturidade e preparo para rever
seu método e buscar outras maneiras de envolver os alunos. É muito cômoda a
posição do professor que se defende do fracasso de sua relação com a sala
culpando os alunos. O desafio está em saber que a cada nova turma surgem outras
experiências de vida, outros anseios, outras expectativas. Em suma, é preciso
saber que tudo muda e, se assim é, a forma de dar aula também tem de mudar.
2) "Esse aluno
não aprende"
O
processo de aprendizagem é complexo e qualquer radicalização cria um fosso
intransponível. Todo aluno traz uma carga de experiências ruins da própria
família: são bloqueios, medos, ansiedades e outros traumas que atrapalham o
processo de aprendizagem porque geram insegurança. É preciso se dispor a
conhecer cada um deles para auxiliá-los. Alguns, aparentemente, estão mais
aptos para o aprendizado, demonstram-se interessados, participativos; outros
apresentam mais dificuldade, não querem conversar, ler, participar, mas nem por
isso devem ser deixados de lado. É preciso tentar conhecê-los para auxiliá-los.
Alguns professores, erroneamente, forçam esses alunos mais tímidos à
participação por meio de ameaças ou de atitudes de sarcasmo e ironia.
Evidentemente não há nada de educativo nesse tipo de postura. É preciso lembrar
que, ao escolher a profissão de educador, como a de médico ou sacerdote, o
professor está comprometido com a sensibilidade humana.
3) "São um
bando de mal-educados que não querem nada com a vida"
Há
determinada fase em que os alunos apresentam um cansaço natural. Aparentemente
estão distantes. São obrigados a acordar cedo, são empurrados a ir para uma
escola que não os seduz; frequentemente têm uma agenda massacrante de aulas de
natação, de inglês, de dança, de música. Essa rotina pode torná-los apáticos,
por um lado, ou irreverentes em relação à aula. O professor precisa transformar
a matéria que ministra em algo participativo, gostoso, empolgante, e seduzir os
alunos. Todo jovem gosta de aprender o novo, tudo que é curioso. O que
acontece, no entanto, é que ele não consegue perceber de interessante no
conteúdo ou na forma como a é ministrada.
4) "Eles
inventam problema, dor de barriga, dor de cabeça"
Há
alguns alunos que inventam os mais variados problemas, mas cabe ao professor
não generalizar. Às vezes o professor se considera bastante experiente, mas,
quando algum aluno tenta justificar por que não fez determinada tarefa, ele nem
consegue ouvir, já tem sua explicação, já sabe o motivo, sabe que é
"enrolação". É preciso deixar o aluno falar, é preciso saber ouvir.
Esse talvez seja o maior mérito do educador que preza sua vocação. Quem inventa
problema pode estar passando por alguma dificuldade - nesse caso o professor
amigo poderia ser um farol, um auxílio ao aluno - ou apenas tentando mascarar o
desinteresse e a falta de motivação pelo que lhe está sendo ensinado. Em ambos
os casos, é dever do professor se armar de toda a paciência e compreensão
possível e ouvir o aluno "enrolador".
5) "Esta sala é
indisciplinada"
Pronto,
a sala já está estereotipada: é indisciplinada. Na maioria dos casos, as salas
são indisciplinadas com alguns professores, com outros não. Onde está o
problema? Por que determinado professor consegue a atenção da turma, enquanto
outros nem sequer conseguem dizer bom-dia e já começa a indisciplina? Talvez
seja importante que o professor reveja sua relação com o grupo e analise onde nasceu
o problema. A sala está assim desde o primeiro dia? O professor já começou mal?
A relação está péssima? Ninguém é indisciplinado à toa. Percebe-se, por
exemplo, o mesmo fenômeno em uma plateia de professores que assiste a uma conferência
desinteressante: todos se põem a conversar, a ir vária> vezes ao banheiro e
num instante temos uma plateia indisciplinada... de professores! Não são
indisciplinados. O que aconteceu? Perderam o interesse porque o palestrante era
desinteressante ou porque a forma como ele proferia a palestra era
desinteressante. Antes de julgar os alunos, é preciso que o professor reflita
conscientemente sobre a forma como tem ministrado suas aulas.
6) "Esses
alunos são completamente desinformados"
Há
um erro crasso nessa afirmação. Os "filhos" da internet (obviamente
falamos dos alunos bem aquinhoados financeiramente, porque há uma massa enorme
de jovens que não dispõem de computador em casa) não são desinformados. Essa
geração tem mais informação do que qualquer outra em todos os tempos. Internet,
televisão, cinema, revistas, jornais - mesmo que optando por alguns cadernos
mais atraentes que informativos - são fontes riquíssimas de informação. Talvez
a dificuldade esteja em transformar essa informação em conhecimento. É
exatamente aí que começa a atuar o professor que percebe o interesse do aluno e
o direciona. Imaginem uma mesa de jantar em que só há profissionais do mercado
financeiro e dois outros convidados de outras profissões quaisquer. Se a
conversa versar toda ela sobre as cotações da bolsa de valores, os dois
estranhos parecerão não só desinformados como desinteressados do assunto em
pauta.
7) "Se não
ficar quieto agora, mando você para a diretoria"
Medidas
extremas devem ser evitadas a todo custo. Em algumas situações o professor
assume diante da sala a incapacidade de lidar diplomaticamente com problemas.
Não vivemos em uma época compatível com o autoritarismo. Mandar para a
diretoria por quê? O diretor ou a diretora terá mais competência, mais poder,
maior capacidade de persuasão que o professor? Ora, o educador por excelência é
quem precisa atuar, encontrar uma solução para apaziguar o comportamento
inadequado dos alunos. Enviar à diretoria pode ser um instrumento para utilizar
em casos extremos. E tal procedimento parecerá ao aluno um expediente de quem
não pôde contornar um problema que estava a seu alcance.
8) "Ou vocês
entregam quem aprontou essa, ou fica todo mundo com zero"
Vários
erros pedagógicos são cometidos pelo professor que ameaça. Formar um cidadão
significa transformá-lo em um "dedo-duro" aos olhos dos colegas? A
irreverência de alguns alunos não compensa o destempero. Quem apronta alguma
brincadeira em sala de aula pretende criar um clima de confusão, e conseguirá
se o professor não tiver a habilidade necessária para resolver a questão. Nesse
caso, talvez o mais prudente seja tornar inócuo o efeito da brincadeira,
fingindo que não se percebeu nada. A peraltice é própria da juventude e a
tendência, quando o professor ignora os supostos efeitos cômicos da brincadeira,
é o aluno não repetir a iniciativa.
9) "Se não
falarem quem fez isso. amanhã suspensão para a sala inteira"
Mais
uma vez, o estímulo a que se apresente um dedo-duro e acompanhado de uma ameaça
pouco inteligente. Suspender a sala inteira significa dar feriado para a turma
toda. E, dependendo da idade e da formação, os alunos vão adorar e, por isso,
repetirão o malfeito para ganhar outros feriados. As medidas disciplinares têm
de ser inteligentes. Evidentemente há que se respeitar normas, trabalhar com limites,
mas de forma construída coletivamente. Em situações de aula, o professor é o
mais experiente e deve aproveitar essas oportunidades de indisciplina como
desafios para conduzir de forma eficiente o trabalho escolar.
10) "Quem não
trouxer o livro amanhã, não entra"
Além
do erro pedagógico da ameaça, a que nos referimos anteriormente, devemos
lembrar que ninguém gosta de ser ameaçado. E o maior erro está na ameaça que,
aliás, pode não ser cumprida: o professor que age assim espera que nenhum aluno
venha sem o livro. E se vier? E se vier a classe toda sem o livro? Ninguém
entra? Ele não dá aula? Medidas extremas, desnecessárias, se desautorizam pela
natureza mesmo do problema de maior proporção que ocasionariam. Quando houver
necessidade de dar uma ordem, o professor sabe que se trata de uma situação de
exceção, mas o cumprimento dela não pode deixar de ocorrer de forma nenhuma, ou
o professor perde sua autoridade diante do aluno. Os alunos sabem reconhecer °
professor que realmente não transige. "Ele fala a sério", dirão,
"é melhor respeitar'.
Sem ameaças. São necessários
limites que se estabelecem com diálogo, com afeto.
11) "Vejam o
exemplo da fulana, ela sim é boa aluna"
Horrível
exemplo. Comparar um aluno com outro é tão terrível quanto comparar um filho
com outro. Cada um é único. São diferentes entre si. O exemplo é ruim para a
sala, que se sente diminuída, e para quem for considerado bom aluno, que se
coloca como um ser extraterrestre diante dos outros. A relação social dessa
pessoa começa a ser prejudicada e ela fica excluída do grupo. É preciso tomar
muito cuidado com as comparações. Não se pode esquecer que a heterogeneidade, e
não a homogeneidade, é um princípio valorizado na LDB.
12) "Eu sei que
a minha matéria é"chata"
Não
existe nenhuma matéria chata. Alguns professores, com todo o meu respeito,
ficam chatos. A forma de tratar cada área do conhecimento, por mais árida que
possa parecer, pode ser envolvente, interessante, dinâmica ou não. Dizem alguns
que há matérias que despertam mais o interesse dos alunos, são mais concretas,
mais vivas. Isso é um mito. Todas as matérias podem ser vivas. Desde que
ministradas de modo contextualizado, tornam-se importantes para qualquer aluno,
que logo perceberá a necessidade do seu aprendizado para sua vida. Pode-se
ainda usar recursos pedagógicos como jogos e competições entre os grupos e
criar uma infinidade de possibilidades de transformar a aula cm sessões
agradáveis e convidativas.
13) "Você dá
risada do quê? Está me achando com cara de palhaço? pensa que eu não sei a
matéria?"
O
professor, em momento nenhum, deve competir com o aluno, por mais amigos que
sejam. Esse é um parâmetro didático milenar porque o professor é um
referencial, uma pessoa admirada, e como tal precisa se conscientizar de que é
parceiro do aluno; apenas possui mais experiência. Há casos em que o professor
se sente agredido com o riso do aluno ou com o fato de ele resmungar ou
bocejar. Tratamos com pessoas inquietas e irrequietas, porque assim são os
jovens, e cabe ao educador impor o distanciamento maduro e consciente diante de
circunstâncias adversas.
14) "Não aceito
trabalho copiado da internet. Sei que vocês colam uns dos outros, então que
tenham o trabalho de apresentar versões aparentemente diferentes"
A
manifestação de desconfiança afasta muito o aluno do professor, como afastaria
qualquer ser humano de outro. A experiência mostra que, quanto mais autoritário
e distante é o professor, menos o aluno se incomoda por burlar as normas e
tentar enganar. Ao contrário, quando há um clima de amizade o aluno sente-se
constrangido em enganar o professor; seria como enganar a si mesmo. É preciso
acreditar na honestidade do aluno, até que prove o contrário. E não presumir
sua desonestidade para que ele, com o tempo, ganhe a confiança do professor. O
princípio não pode ser invertido. Assim é na escola, assim é nas questões da
justiça.
15)
"Antigamente as coisas funcionavam. Agora, com esses modismos todos, os
alunos têm direito a isso e aquilo. Na minha época não podiam abrir a
boca"
Há
quem lamente os tempos serem outros, a educação ser outra, mas esses se
esquecem de que o mundo é outro e que o ser humano hoje é completamente
diferente daquele de tempos atrás. A relação de poder mudou A necessidade de
diálogo é cada vez maior. Sem entrar no mérito da excelência dos tempos
modernos ou dos contemporâneos, a questão é que, para formar um aluno preparado
para os tempos de hoje, os métodos não podem ser os de antigamente. Ninguém
gostaria de ser submetido a uma intervenção cirúrgica com métodos de quarenta
anos atrás, raros prefeririam ter uma máquina de escrever a um computador
depois de ter experimentado ambos. Tudo muda. E a educação não pode se valer de
um tempo em que o aluno tinha medo de abrir a boca, de olhar para o lado, de
sofrer castigos físicos até. A educação que visa à formação de um ser humano
com autonomia e liberdade não pode reproduzir qualquer padrão ultrapassado de
ensino. O mesmo vale para a educação familiar. O filho que, por medo, não
consegue dizer o que quer ou precisa aos pais, não vai desenvolver o hábito de
reagir, na rua, em situações de injustiça ou de coação.
16) "É
impossível trabalhar com uma sala com essa quantidade de alunos"
O
número de alunos em uma sala de aula pode ser um facilitador ou um dificultador.
Uma sala com número reduzido de alunos facilita o processo de aprendizagem porque
o professor tem condições de conhecer mais de perto cada um deles. As dinâmicas
são mais fáceis de aplicar e a avaliação continuada pode ser mais bem
desenvolvida, enquanto numa sala mais numerosa, o professor tem mais
dificuldade em tratar o aluno individualmente, seja pela quantidade elevada
deles, seja pelo tempo escasso de que dispõe. Dificulta, mas não impossibilita.
É possível fazer dinâmicas com um número maior de alunos, desenvolver técnicas
para conhecê-los e com eles trabalhar. O palco de lutas para salas com menos
alunos é a direção, a coordenação ou as reuniões com os mantenedores. Ao
professor não é dado desvencilhar-se da responsabilidade de trabalhar de forma
competente porque há muitos alunos na sala.
17) "As
matérias mais importantes são português e matemática; se o aluno souber isso,
no resto ele dá um jeito"
Não
existe matéria mais ou menos importante. Todas elas precisam ser ministradas de
igual maneira no sentido de formar plenamente o aluno. Cada matéria tem seu
grau de responsabilidade na formação comum de um cidadão. Mesmo na divisão da
carga horária para a grade curricular, é preciso que a comunidade participe na
definição das prioridades daquela região e como elas serão trabalhadas na
escola.
18) "Aluno
detesta estudar"
Aluno
detesta estudar quando não há professor interessante que o seduza, que o
conduza pelos fascinantes caminhos do saber. Aluno detesta mesmice, rotina,
falta de criatividade. Estudar, em princípio, nem se gosta, nem se detesta:
depende de como e apresentada essa arte ou aquela ciência. Quando o professor
parte deste princípio, acaba entrando no terreno da obrigação: tudo, apesar de
ser chato, é obrigatório ou então o aluno não faz. Isso não é verdade.
19) "Quanto
mais difícil é a prova, mais eles dão valor depois"
A
questão importante na avaliação não é a prova ser fácil ou difícil, mas ser
inteligente. A avaliação deve ser um instrumento de referência para que o
professor possa acompanhar o processo de aprendizagem do aluno. Se ele não
fizer isso de forma continuada, a prova será apenas a análise de um momento e
não de um processo, o que já está errado. E, tratando-se especificamente da
chamada "prova", ela não deve ser um instrumento para que o
professor, por meio de pegadinhas, faça o aluno errar, para mostrar a
dificuldade. Pegadinha não é desafio, é artimanha, armadilha, ou seja, uma
forma covarde de fazer o outro perder. E sempre devemos ter em mente que nesse
tipo de raciocínio o professor, geralmente maduro e equilibrado, perde longe
para o jovem, geralmente mais "esperto".
20) "Eu sei que
agora vocês me odeiam, mas depois vocês vão se lembrar de mim com
saudades"
O
que pode esperar um professor que tem a consciência de que é odiado pelos alunos
e persiste nas mesmas praticas, confiando em que um dia os alunos reconheçam
que ele tinha lá seu valor? Se o professor se acredita odiado, já é um grande
passo para que tente reconquistar os alunos, para que reflita sua prática
pedagógica e sua maneira de tratar a relação entre ensino e aprendizagem. Todos
nós nos lembramos com saudades daquilo que foi bom e já não temos mais; o que
não foi bom não deixa saudades, no máximo nos lembraremos com bom humor das
situações que nos deixaram mal-humorados um dia. A relação de afeto entre
alunos e professor deve se estabelecer no momento da aprendizagem.
21) "Professor
não pode ser amigo do aluno. 0 aluno acaba perdendo o respeito"
Professor
tem de ser amigo do aluno, é um imperativo, e disso não se pode abrir mão nem
fazer concessões. O professor só conseguirá atingir seus objetivos ser for
amigo dos alunos. E se for amigo verdadeiro, terá todo o respeito porque um
amigo respeita o outro. Se não for amigo, poderá se impor pela ameaça, abusando
da prerrogativa que a posição de professor lhe confere o poder de dar uma nota
baixa ou de reprovar o aluno. Respeito não se impõe, conquista-se. E a amizade
com os alunos é essencial. Sem afeto não há educação.
22) "Não dê
muita atenção ao que os alunos dizem. Eles mudam muito de opinião"
Os
alunos mudam de opinião com frequência maior que a de uma pessoa madura, o que
tem seu lado bom e seu lado mau. É bom porque prova que os alunos têm menos
amarras, menos medo do novo, menos medo de arriscar e mais flexibilidade. É ruim
porque podem ser persuadidos a acatar valores inadequados, e assim se deixar
conduzir a práticas danosas. É nesse ponto que o professor, o mestre, o amigo,
que dá atenção sempre, que acompanha o processo de mudança, que auxilia o aluno
a ter os pés mais firmes em valores essenciais, dá a sua maior contribuição,
apontando para o caminho dos valores libertadores.
23) "Se logo no
primeiro dia não ficar claro aos alunos que quem manda é o professor, depois
não tem jeito"
No
primeiro dia de aula o que precisa ficar claro é que o professor será amigo do
aluno, que a matéria ministrada será fascinante e que durante o período em que
estarão juntos muito será apreendido, trocado.
No
primeiro dia precisa ficar claro que o professor adora ser professor e conviver
com os alunos, que ensinar foi uma opção de vida - ajudar o ser humano a
crescer, a ser mais livre, mais feliz. Jamais uma primeira aula pode ser
recheada de ameaças e autoritarismo.
24) "Fulano e
sicrano, sempre com cara de sono e olhos vermelhos. Isso é droga, eu não me
engano"
É
preciso tomar muito cuidado com conclusões apressadas. Cara de sono pode ser
insônia, noite mal dormida, doença física, estresse, problemas familiares. O
risco do estereótipo nos faz cair em armadilhas e muitas vezes cometei injustiças.
Mesmo que o professor se certifique de que o aluno está usando droga, o
problema não será solucionado se ele se colocar na posição de sabichão e
divulgar para outros professores a "novidade" que descobriu. O afeto
e a disposição devem predominar na abordagem de problemas dessa ordem.
25) Dize-me com quem
andas e te direi quem és - precisa separar aluno bom de aluno que não presta,
senão todos passam a não prestar"
Frases
prontas e ideias feitas não cabem na relação entre aluno e professor. O conceito
de "aluno que não presta" já é absurdamente grotesco e incorreto. A
referência a um aluno indisciplinado, ausente ou com dificuldade de
aprendizagem deve ser cuidadosa; quanto mais desprezado o aluno, mais agravados
serão os problemas. Ao invés de separar preconceituosamente os "bons"
e os "maus", o professor deve investir suas energias no sentido de
uni-los e fazê-los trabalhar juntos para recuperar aqueles cujo processo de
aprendizagem é mais lento pela razão que for. E continuar incentivando os que estão
tendo maior proveito das aulas, contando com eles para envolver os demais.
26) "Escola é
boa nas férias, quando não há aluno para nos amolar"
A
melhor experiência para um professor é a convivência com aluno. O prazer de
acompanhar a chegada, os olhares curiosos, o desejo de aprender, as
"fofoquinhas" sobre como é o professor. A certeza de que pode ser um
canal para proporcionar o crescimento, o desenvolvimento. A relação saudável
entre professor e aluno só contribuirá para o crescimento e a realização de
ambos.
Professor
que não gosta de aluno deve mudar de profissão. A educação é um processo que se
dá através do relacionamento e do afeto para que possa frutificar. Professores
que não vibram com os alunos são como pais que preferem os filhos afastados de
si o maior tempo possível.
Outros
tantos exemplos poderiam ser dados, outros mitos que se perpetuam poderiam ser
abordados. São frases soltas, ouvidas e repetidas por aí, demonstrando apenas
que a insatisfação do professor com relação aos alunos pode ter causas mais
arraigadas e, por comodismo, falta de reflexão e autocrítica, terminam por
visar os jovens, sem nenhuma pertinência. São paradigmas que precisam ser
quebrados sob pena de termos uma educação caduca, envelhecida e ineficiente.
Alunos
possuem suas peculiaridades em qualquer idade. Observem-se os alunos de
pós-graduação, que já são professores há um longo tempo: comportam-se como
crianças grandes aqueles marmanjões todos que ficam em fila para conversar com
o professor e pedir-lhe para adiar a entrega de um trabalho. Ou pedindo uma
entrevista com o professor para expor suas inseguranças com relação ao tema da
tese, aproveitando a oportunidade para um desabafo de ordem pessoal. Não há
idade para sentir-se aluno, para manifestar dependência. Qualquer que seja a
faixa etária do aluno e qualquer que seja sua aspiração, o professor será
"amolado”.
O
aluno, como todo ser humano, precisa de afeto para se sentir valorizado. Se houver
aluno intransigente, teimoso, emocionalmente abalado, ninguém se surpreenderá.
Já o professor não pode se apresentar emocionalmente abalado diante dos alunos.
O professor é a referência, é o modelo, é o exemplo a ser seguido e, exatamente
por causa disso, o pouco que fizer afetuosamente, uma palavra, um gesto, será
muito para o aluno com problemas.
O
professor que chama o aluno pelo nome, que repara em algum novo detalhe, uma
roupa, um novo corte de cabelo; o professor que menciona ter conhecido o pai de
seu aluno e lhe faz um elogio. Realiza pequenos gestos de atenção que quebram
barreiras e fertilizam o terreno da amizade entre ambos. É o famoso afeto, que
nada tem de complicado e não exige sacrifícios. Basta um pouco de boa vontade e
muito de vocação para o magistério. Em qualquer aspecto da vida cotidiana, não
apenas na escola, a desatenção gera agressividade. No guichê do correio, na
caixa do banco, no laboratório médico, quantas vezes não nos irritamos com o
tratamento displicente dos funcionários que deveriam nos atender com cortesia.
Então nos damos conta rapidamente de que somos apenas um incômodo a mais na
vida deles e reagimos mal. O aluno também pode ter essa sensação de não estar
agradando, o que o faz tornar-se agressivo, querer atrapalhar a aula para que
sua presença seja notada.
Nenhum
aluno é mau, assim como nenhum ser humano é mau apríori. Infelizmente, o número
de alunos por sala não permite que o professor conheça profundamente cada um,
já que muitas vezes ele tem de trabalhar em várias escolas para completar o
orçamento familiar. A desvalorização da carreira do magistério, os baixos
salários, que chegam a privar o professor do acesso ao conhecimento por não lhe
sobrar dinheiro ou tempo algum para atualizações e leituras, contribuem para
sua má disposição.
O
ideal é que se trabalhe em menos lugares para sobrar mais tempo para os alunos,
para conhecê-los melhor, isso com um salário digno. E então a relação de afeto
pode ser desenvolvida plenamente, fazendo com que o professor tenha prazer em
exercer sua profissão e o aluno tenha prazer em conviver com quem terá uma
importância enorme em sua vida.
Quantos
alunos relembram seus grandes mestres com uma saudade gostosa, de um tempo que
foi importante em sua vida? E quantos há que se lembram com pavor de alguns
mestres que só lhes criaram traumas, trouxeram medo e frustração? É preciso
olhar os exemplos do passado para construir um presente e um futuro melhores.
Se cada professor conseguisse lembrar do tempo em que foi aluno, das marcas
positivas e negativas, dos exemplos que eram para ser seguidos ou evitados,
ajudaria muito a pensar em seu papel de educador.
A
LDB, ao tratar dos níveis escolares, em seu artigo 21, expõe:
I. Educação Básica,
formada pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio;
II. Educação
Superior.
No artigo 22, a LDB
trata da educação básica:
Artigo
22 - A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe
a formação comum indispensável para o exercício da cidadania, fornecer-lhe
meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.
No
artigo 29, a LDB trata especificamente da educação infantil:
Artigo 29-A Educação
Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos
físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e
da comunidade.
O
artigo 32 da LDB trata especificamente do ensino fundamental:
Artigo 32 - O Ensino
Fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório e gratuito na escola
pública, terá por objetivo a formação básica do cidadão mediante:
I. o desenvolvimento
da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura,
da escrita e do cálculo;
II. a compreensão do
ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos
valores em que se fundamenta a sociedade;
III. o
desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de
conhecimentos e habilidades
e a formação de atitudes e valores;
IV. o fortalecimento
dos vínculos da família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância
recíproca em que se assenta a vida social.
O
artigo 35 da LDB dispõe sobre o ensino médio:
Artigo 35 -O Ensino
Médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos. terá
como finalidades:
I. a consolidação e
o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental,
possibilitando o prosseguimento dos estudos;
II. a preparação
básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de
modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação
ou aperfeiçoamento posteriores;
III. o aprimoramento
do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento
da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV.a compreensão dos
fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a
teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.
E, por fim, no
artigo 43, a LDB traz a finalidade da educação superior:
Artigo
43 - A Educação Superior tem por finalidade:
I. estimulara
criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento
reflexivo:
II. formar
diplomados nas diferentes áreas do conhecimento, aptos para a inserção em
setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade
brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III incentivar o trabalho de
pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da
tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o
entendimento do homem e do meio em que vive;
IV.promover a divulgação
de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da
humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras
formas de comunicação;
V. suscitar o desejo
permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a
correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo
adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada
geração;
VI. estimular o
conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e
regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta
uma relação de reciprocidade;
VII. promover a
extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas
e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e
tecnológica geradas na instituição.
É
importante que se conheça a lei e se lute por sua efetivação. Esses artigos
trazem a lume os princípios da educação em cada um de seus níveis e os
objetivos reais do legislador brasileiro quanto ao aluno.
Como
se viu, o aluno do ensino básico tem que ser desenvolvido de modo a se formar
para o exercício da cidadania. A educação infantil, a formação integral da
criança, em seus vários aspectos: físico, psicológico, intelectual e social. No
ensino fundamental, o aluno tem de ser formado como cidadão para desenvolver a
capacidade de aprender, para compreender o ambiente natural e social, para que
se fortaleçam seus laços com a solidariedade humana. No ensino médio, além de
outros aspectos, prioriza-se o aprimoramento do educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética, o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico. Por fim, o ensino superior prepara o aluno de forma ainda
mais intensa para o espírito crítico, científico, cultural, social, não apenas
despejando conhecimento, mas suscitando-lhe o desejo permanente de
aperfeiçoamento e despertando a sensibilidade para a relação com a comunidade.
Parece
que o simples cumprimento desses princípios formariam outro conceito de aluno.
Infelizmente o desconhecimento da lei ou a leitura apressada de dispositivos
constitucionais ou legais dificultam a realização desses ideais.
Fez-se
questão de reproduzir esses artigos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
neste capítulo que trata do aluno para que a reflexão fique ainda mais
concreta. Quando se fala de autonomia, de cidadania, de respeito ao aluno, de
quebra de paradigmas, trata-se de cumprir a Constituição Federal e a legislação
infraconstitucional, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que regem a
educação no país.
Que
o aluno seja olhado de outra forma, que as relações sejam menos traumáticas
porque nascidas no respeito ao espaço e ao papel de cada um. Os alunos serão
diferentes a cada ano, a cada dia, e o professor também será. Um mestre que tem
diante de si a responsabilidade e a missão de formar pessoas equilibradas e
felizes, além de competentes.
O
aluno tratado com respeito, tendo valorizada a sua história de vida, sente-se
amado, querido na escola em que estuda e pode ser promessa para o país que
queremos. É dos bancos escolares que sairão as mulheres e os homens que vão
assumir os postos de comando da nação, como políticos, executivos, jornalistas,
formadores de opinião, professores, profissionais das mais diversas atividades
que com sua atuação e seu exemplo de vida poderão servir como nova referência
para novos tempos. Qualquer que seja o profissional, qualquer que seja o posto
ocupado, essa pessoa se valeu de mestres para alcançar sua posição.
E
o que terá aprendido? Como terá se preparado? Por que esqueceu os ensinamentos
de vida, as questões essenciais? Esqueceu ou não foi educado para isso?
Esqueceu ou foi incentivado para o contrário, para os negócios ilícitos, para
as tapeações, para o comodismo, para a aceitação pacífica de todas as mazelas
que proliferam?
Que
tipo de aluno se quer formar? Que tipo de aluno se almeja para assumir
responsabilidades na idade adulta? Que tipo de aluno se quer depois de anos e
anos de aprendizagem sistemática, de avaliações, de momentos de lazer, de troca
de experiências? O que se quer do aluno de uma escola brasileira em tempos
hodiernos?
Essa
deve ser a reflexão inicial dos professores nos dias de planejamento. O que
queremos de nosso aluno e o que ele quer de nós? O que queremos para o presente
e para o futuro deste país com o tipo de educação que estamos dando?
Corremos
o risco de cair nas malhas da burocracia do sistema, em que o conteúdo é
tratado de forma a repetir padrões anteriormente determinados sem a menor compreensão
de sua finalidade. O professor acaba ministrando conteúdos ultrapassados, que
pouco contribuem para a formação do aluno, e não faz isso por mal, mas porque
não é adequadamente capacitado. Reuniões do corpo docente há muitas, com
certeza, entretanto são frequentemente inócuas já que não atingem o cerne da
questão. Qualquer tipo de discussão educacional, qualquer planejamento em que
se pense a grade curricular, as ementas, o conteúdo, sem levar em conta o foco,
o fim a que se pretende chegar, está fadado a naufragar. É barco sem norte, sem
rumo, sem direção. É construção desordenada em que os tijolos vão sendo
empilhados uns sobre os outros, mas não há planta, não há projeto, não se sabe
o tipo de construção que se 'está fazendo.
Se
a escola existe para o aluno, para formá-lo e prepará-lo para a vida e para ser
a vida dele, é preciso começar da gênese - qual o perfil do aluno que
pretendemos formar?
Nenhum comentário:
Postar um comentário